Seja no mercado de trabalho, na divisão de tarefas domésticas e até mesmo em escolas e universidades, é muito raro encontrar mulheres que nunca foram vítimas da desigualdade de gênero em alguma situação. Mesmo com os avanços a favor dos direitos humanos, a criação de leis e a visibilidade da causa, é muito comum se deparar com situações em que o gênero é determinante e motivo para discriminação.
Por mais que a desigualdade de gênero esteja presente no dia a dia, ela pode ser difícil de ser identificada ou confrontada. Por isso, confira o nosso guia sobre esse tipo de preconceito e entenda melhor sua origem, as causas e formas de combater a desigualdade de gênero.
Índice do conteúdo:
O que é desigualdade de gênero
Assim como outros tipos de preconceito, a desigualdade de gênero é uma discriminação social que prioriza o gênero masculino em detrimento do feminino e de gêneros não-binários. Essa desigualdade é enraizada na sociedade devido ao machismo e ao patriarcado, que colocam o homem como superior em diversas relações sociais, que vão do trabalho até a estrutura familiar. Desde crianças, somos ensinados a diferenciar os gêneros de acordo com o sexo: enquanto meninos usam azul e jogam bola, meninas vestem rosa e brincam de casinha. Mesmo que essa diferenciação não signifique, necessariamente, um preconceito, ela evidencia que, na sociedade em que vivemos, as funções sociais também são determinadas pelo gênero.
Muitas vezes, argumentos como “o homem e a mulher são biologicamente diferentes” ou “a igualdade de gênero está prevista na lei, não existem motivos para que essa luta continue” são utilizados para deslegitimar a discriminação sofrida pelas mulheres. No entanto, é importante ressaltar que diferenças biológicas não devem ser parâmetro para definir direitos sociais – afinal, com exceção do órgão sexual, homens, mulheres e pessoas de gêneros não-binários são igualmente capacitados. Além disso, mesmo que a constituição preveja que todos são iguais perante a lei, essa máxima não é respeitada em diversas situações – por isso, a necessidade de um movimento que exija que os direitos da mulher sejam cumpridos.
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Origem: patriarcado e submissão
Historicamente, a mulher sempre assumiu uma posição subalterna na sociedade – enquanto o homem tinha direito ao estudo e à participação política, as mulheres cuidavam da casa e não tinham voz ativa na tomada de decisões. Ao longo dos séculos, a mulher foi considerada inferior, incapaz e sua imagem sempre vinha associada à do homem.
Culturalmente enraizada pelo patriarcado, a submissão feminina existe desde o início da vida em sociedade. Sempre associada à maternidade, a mulher adotou um papel social de obediência e subalternidade, que envolvia o cuidado da casa, dos filhos e do próprio marido. Mesmo que, hoje em dia, essa mentalidade tenha tenha sido desconstruída, a sociedade atual ainda carrega consequências desse pensamento.
História, cultura e educação: como as mulheres foram inferiorizadas?
Apesar de ser difícil evidenciar as causas exatas da desigualdade de gênero, é possível traçar fatores que contribuíram para que essa discriminação se estabelecesse na sociedade. Segundo a historiadora Joan Scott, a desigualdade de gênero se dá por fatores como símbolos culturais e conceitos normativos da sociedade, transmitidos por meio da educação e enraizados pela política. Esses elementos são facilmente identificáveis ao pensarmos, por exemplo, em grandes nomes da ciência, da história ou, indo mais além, até mesmo em figuras mitológicas e divindades – geralmente, todos aqueles de maior destaque são homens.
Geralmente, a posição de poder e submissão se dá por meio de uma guerra (em que o vencedor possui domínio sobre o perdedor), por questões econômicas (quem detém o capital opera dominância sobre os outros) ou, também, por diferença numérica (um grupo maior domina o grupo menor). No entanto, nenhuma dessas causas se aplica para explicar a desigualdade de gênero. É por esse motivo que a escritora feminista e teórica social Simone de Beauvoir classifica essa discriminação como enraizada culturalmente. A prova disso é que até mesmo as próprias mulheres perpetuam o discurso machista e patriarcal, mesmo que inconscientemente: segundo a autora, mulheres burguesas se solidarizam mais por homens burgueses do que por mulheres proletárias, ou mulheres brancas possuem maior empatia por homens brancos do que por mulheres negras. Isso acontece por elas se identificarem com os homens mais pela situação econômica ou pela cor da pele do que pelo gênero.
Desigualdade de gênero no Brasil
Com poucas políticas para a diminuição da desigualdade de gênero, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para que a igualdade entre homens e mulheres seja alcançada no país. Mesmo com as cotas partidárias na política, a Delegacia da Mulher e leis que tornam obrigatório o pagamento igualitário de salários para pessoas do mesmo cargo e de gêneros diferentes, as mulheres ainda enfrentam diversos obstáculos para serem representadas no Congresso, para obter ajuda em caso de violência ou para ingressar e se manter no mercado de trabalho.
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Além disso, quando comparado com outros países, o Brasil se encontra em uma péssima situação para os gêneros minoritários. Neste tópico, iremos discutir a situação do país para mulheres na política e em relação à violência e feminicídio.
Brasil e igualdade de gênero: um longo caminho a percorrer
Para identificar a desigualdade de gênero, não é preciso ir muito além. Na verdade, o Brasil está muito longe de obter uma sociedade igualitária para homens e mulheres: segundo o relatório sobre disparidade de gênero do Fórum Econômico Mundial, publicado em 2018, nosso país ocupou a 95ª posição no ranking, que busca analisar o progresso em relação à igualdade de gênero, abordando aspectos como oportunidade econômica, empoderamento político, nível educacional, saúde e sobrevivência. Essa é a pior colocação de todos os países da América do Sul.
Além da péssima colocação – foram analisados 149 países -, o Brasil ainda caiu 5 posições desde o último ranking. Isso significa que, aparentemente, não apenas novas políticas para a redução da desigualdade de gênero não estão sendo feitas, como as que já existem não estão sendo eficazes.
Buscando o lugar de fala na política
Em 2009, tornaram-se obrigatórias as cotas eleitorais que reservam uma quantidade mínima de candidaturas em eleições para mulheres – a lei prevê que cada partido deve ter no mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos de cada gênero. Apesar dessa lei ser importante para a igualdade entre gêneros, ela promove apenas a obrigatoriedade da candidatura, e isso não significa que essa proporção se aplicará, de fato, nas vagas parlamentares ocupadas por mulheres.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2017 o Brasil ocupava a 152ª posição em um ranking de 190 países que media a porcentagem de cadeiras ocupadas por mulheres na câmara de deputados, com uma participação de apenas 10,5%, se classificando com a pior posição da América do Sul e ficando abaixo da média mundial – 23,6%.
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Em briga de marido e mulher se mete a colher, sim!
Apesar de casos de estupro ou violência nas ruas sejam mais noticiados, é em casa e no ambiente familiar que a violência contra a mulher é mais frequente. Segundo o Ministério da Saúde, o número de denúncias de violência física por cônjuge ou namorado em 2009 era de 4339 – valor que quase quadruplicou em 2016, ano que totalizou 33961 notificações desse tipo. Ao mesmo tempo que esses dados demonstram um lado positivo – que, afinal, as mulheres estão, de fato, se conscientizando e denunciando a violência -, eles também evidenciam que, apesar de políticas públicas para a redução desses números, eles não decrescem. A maior dificuldade, nestes casos, é de mudar a mentalidade cultural de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher” – ou seja, se a violência ocorre no ambiente íntimo, ela deve ser resolvida entre o casal – pensamento extremamente machista e abusivo.
No início de 2019, o instituto Datafolha divulgou uma pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública que evidencia outros índices alarmantes quando o assunto é a violência contra a mulher: em 2018, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas no Brasil, e 37,1% da população feminina do país sofreu algum tipo de assédio. E, mesmo com números exorbitantes de denúncias contra esse tipo de abuso, a pesquisa ainda pontua que 52% dessas mulheres não denunciou o agressor.
Desigualdade de gênero no mundo
Mesmo com diferentes histórias, culturas e povos, a desigualdade de gênero pode ser encontrada em todos os países. A prova disso é o ranking do Fórum Econômico Mundial, que pontua e classifica as nações de acordo com os dados obtidos em relação a esse tópico. Até mesmo a Islândia – país que ocupa o primeiro lugar na lista, com o menor índice de desigualdade -, possui uma pontuação significativamente inferior à ideal, que seria a igualdade completa. O segundo e o terceiro lugar foram ocupados pela Noruega e Suécia, respectivamente.
Já as piores colocações são do Iraque, Paquistão e, em último, Iêmen. Assim como outros países do Oriente Médio, que também ocupam as posições mais baixas no ranking, esses países possuem questões culturais muito enraizadas que colocam a mulher em uma posição extremamente submissa, dificultando, assim, o desenvolvimento da igualdade de gênero no mundo.
O mundo é dos homens
Entre os quatro aspectos escolhidos para analisar os 149 países em relação à desigualdade de gênero, o ranking mundial identificou na política a maior disparidade entre a quantidade de participação de cada gênero: apenas 17 países possuem mulheres como chefes de estado e, em média, o gênero feminino ocupa somente 18% dos postos de ministérios e 24% das cadeiras nos congressos. Segundo o ranking, esses dados representam uma disparidade de 77,1%.
Em relação à oportunidade econômica, que é o segundo setor com maior desigualdade de gênero analisado pelo ranking, o Fórum Econômico Mundial detectou uma lacuna de 41,9% entre as oportunidades oferecidas para cada gênero, além de concluir que mulheres gastam, em média, o dobro do tempo com atividades domésticas e não remuneradas do que homens.
Pode parecer algo impensável em uma sociedade em que a educação básica independe do gênero, mas, segundo o ranking, existem 44 países em que mais de 20% da população feminina é analfabeta. Apesar disso, essa categoria possui uma boa pontuação no ranking, com apenas 4,4% de disparidade de gênero.
Desigualdade de gênero no mercado de trabalho
Um dos tópicos que mais evidenciam a desigualdade de gênero na sociedade é o mercado de trabalho – mesmo sendo facilmente identificada em casos de diferença salarial ou porcentagem de ocupação de cargos de liderança, essa discriminação ainda é muito comum.
Mesmo sendo maioria com ensino superior, as mulheres ainda recebem salários significativamente menores que homens que ocupam o mesmo cargo. Além disso, a quantidade de pessoas do gênero feminino ocupando posições de gerência em empresas é inferior ao masculino. Abaixo, confira alguns dados que revelam essa realidade:
Desigualdade salarial entre iguais
No Brasil, segundo o censo do IBGE de 2016, 60,9% dos cargos gerenciais são ocupados por homens e 39,1% por mulheres. A discrepância desses dados fica ainda maior quando as mulheres possuem filhos menores de 6 anos – segundo a pesquisa feita pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), elas ocupam 25% dos cargos de gerência, enquanto aquelas que não possuem filhos ocupam 31% e 44% tem filhos maiores de 6 anos.
Em nível mundial, a OIT aponta uma diferença salarial de 20% entre homens e mulheres que ocupam cargos semelhantes. Além disso, a organização também afirma que a probabilidade de uma mulher trabalhar é 26% menor que a de um homem – mesmo que 70% das mulheres afirmem preferir ter um emprego a ficar em casa.
Segundo a pesquisa feita pelo IBGE em 2018, as mulheres são maioria com ensino superior, somando 23,5% da população acima de 25 anos, enquanto os homens totalizam 20,7%. No entanto, em nível mundial, 41,5% das mulheres com título de educação superior não trabalham – e os mesmos dados em relação aos homens são de 17,2%;
Desigualdade de gênero no esporte
Para perceber que a desigualdade de gênero é muito presente no esporte, faremos uma comparação entre as copas do mundo de futebol: enquanto a masculina promove um clima generalizado, em que a programação da televisão consiste, basicamente, em partidas do esporte, e algumas empresas até dispensam os funcionários para que possam assistir aos jogos da seleção brasileira, a competição feminina recebe um destaque muito menor tanto pelas emissoras quanto pelo público. Apesar de simples, esse exemplo reflete um preconceito histórico enraizado nessa prática que afeta e prejudica as esportistas, já que até 1979 mulheres eram proibidas de jogar futebol.
Além do preconceito estrutural, outro problema enfrentado pelas mulheres no esporte é a desigualdade salarial, que demonstra uma discrepância absurda entre o pagamento de atletas homens e mulheres, e a questão da sexualização do corpo. Enquanto atletas homens são reconhecidos por seu talento e habilidade, as mulheres recebem muito mais atenção quando mostram partes do corpo ou por serem consideradas bonitas.
Nomeada pela ONU (Organização das Nações Unidas) como embaixadora da Boa Vontade para mulheres e meninas no esporte, a jogadora Marta compartilhou sua trajetória desafiadora antes de ser nomeada por cinco vezes consecutivas Jogadora do Ano. “O preconceito e a falta de oportunidades já me doeram ao longo do meu caminho. Doeu quando meninos não me deixaram jogar. Doeu quando treinadores me tiravam dos campeonatos porque eu era apenas uma menina. Mas minha certeza de onde eu iria chegar nunca me deixou desistir”, contou a jogadora, em um evento da ONU.
“Lugar de mulher não é no esporte”
A revista Forbes realizou, em 2018, um ranking que elenca os 100 atletas mais bem pagos do mundo – e no qual não está listada nenhuma mulher. Isso mostra como a desigualdade de gênero não apenas é presente no esporte, mas como o gênero é determinante para definir o prestígio do atleta.
Não é preciso ir muito longe para perceber que a desigualdade de gênero afeta a participação de mulheres no esporte. Segundo o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a quantidade de mulheres que praticam exercícios físicos é 40% menor do que a de homens. Desde a mentalidade, enraizada culturalmente, de que esse tipo de atividade é masculina, até o pouco incentivo financeiro e os estereótipos vinculados a mulheres esportistas são alguns dos argumentos que desanimam mulheres de ingressar na prática.
Como acabar com a desigualdade de gênero
Mesmo com políticas públicas, como leis e incentivos, que visam acabar com a desigualdade de gênero, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que esse objetivo seja alcançado. Para que mudanças sejam feitas, é necessário que a mentalidade machista, muito enraizada na sociedade, seja desconstruída. Por esse motivo, é sempre importante conscientizar, alertar e denunciar situações em que haja desigualdade de gênero: seja na sala de aula, no mercado de trabalho ou, até mesmo, em situações familiares. O primeiro passo é estar ciente de que a desigualdade de gênero é um problema que deve ser combatido!
Projetos: em busca de um mundo mais igualitário
Visando uma sociedade mais igualitária, alguns projetos foram desenvolvidos para que a desigualdade de gênero seja combatida. Conheça e apoie algumas dessas iniciativas e descubra outras formas de ajudar a tornar a sociedade mais igualitária para mulheres:
1. Estratégia de Igualdade de Gênero 2018-2021 do PNUD: o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é um órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) que tem como objetivo a promoção da igualdade em diversos aspectos sociais – entre eles, o gênero. Esta proposta engloba ações pontuais, como a maior inclusão de mulheres nos programas da própria organização, e outras mais globais, como o combate ao assédio sexual e à desigualdade de salários.
2. 500 Women Scientists: com o objetivo de promover a igualdade de gênero na ciência, a organização oferece serviços como a página solicite uma mulher cientista, que mapeia pesquisadoras do mundo de acordo com a localização e a área de atuação para facilitar a busca de fontes mulheres. A preferência por uma fonte feminina e não masculina, mesmo que seja uma pequena ação, contribui para a desconstrução da mentalidade de que apenas homens podem ser autoridades quando o assunto é ciência!
3. Chega de fiu fiu!: em uma situação de abuso sexual ou violência contra a mulher, é recomendado discar 180 e denunciar o caso para a Central de Atendimento à mulher. No entanto, o Chega de fiu fiu! foi criado para mapear locais e horários de agressões por cidade, de forma anônima, para que mulheres compartilhem suas experiências e, assim, alertem outras possíveis vítimas para que o mesmo não aconteça com elas.
4. #metoo: utilizada por mulheres de todo o mundo, incluindo celebridades e influenciadoras, a hashtag ganhou destaque por mostrar que o abuso e a violência contra a mulher é mais comum do que muitos pensam. Muitas vezes, apenas compartilhar sua experiência e conhecer pessoas que passaram por situações semelhantes pode trazer conforto e apoio para quem se sente sozinha e desamparada.
Com pequenas ações, é possível combater a desigualdade de gênero, visando sempre uma sociedade mais igualitária e justa. Os projetos acima são medidas simples e que podem ser adequadas ao seu dia a dia! No entanto, é importante ressaltar que em qualquer situação de violência, discriminação ou abuso, é preciso procurar ajuda na Delegacia da Mulher ou na justiça.
Mesmo com projetos, leis e ações combativas à desigualdade de gênero, os dados ainda evidenciam a forte presença desse mal na sociedade. Por isso, é importante se informar, conscientizar as pessoas a sua volta e, é claro, fazer o possível para que a desigualdade de gênero diminua!
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Fatos sobre a bissexualidade para conhecer e mitos para quebrar já publicado primeiro em Dicas de Mulher
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